Em uma cerimônia marcada por emoção e reconhecimento, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) concedeu, na sexta-feira, 31 de outubro, o título de Doutora Honoris Causa à Irmã Assunta Tacca, religiosa da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria (ICM).
Conforme a reitora Ursula Rosa da Silva, a Irmã Assunta é representante dos valores humanitários que precisam ser cultuados e vivenciados diariamente. “A Irmã é um exemplo, com o qual queremos dizer: ‘é isso que a sociedade precisa: amor ao outro e respeito aos direitos humanos’”.

Presente na cerimônia, o prefeito Fernando Marroni destacou que o reconhecimento da vida de missão sabedoria e fé da Irmã Assunta é uma honra para o povo de Pelotas – mais do que um reconhecimento acadêmico, é um gesto de justiça e a celebração de uma trajetória que ultrapassa o conhecimento formal e enraíza o que há de mais essencial: o amor ao outro. “O saber que cura, acolhe e transforma é o saber que nasce do coração. A Irmã Assunta mostra que ciência e espiritualidade não precisam andar separadas”, disse, referenciando o trabalho da religiosa com plantas medicinais e saberes ancestrais. “O título de Doutora Honoris causa reconhece o que Pelotas já sabia: Irmã Assunta é patrimônio humano da nossa comunidade. Que seu exemplo continue inspirando gerações. Cuidar é um ato revolucionário”, afirmou.

Cuidado e amor aos mais vulneráveis
Aos 101 anos, Irmã Assunta é referência em uso de plantas medicinais e no envolvimento com as causas humanitárias através do cuidado de populações vulneráveis. Realiza há 60 anos um significativo trabalho social em Pelotas, abrangendo a promoção da saúde através de práticas humanizadoras do cuidado, como as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, reconhecidas e promovidas pela Organização Mundial de Saúde desde 1978. A láurea máxima da instituição, é uma distinção, também, por sua trajetória no cuidado social, físico, mental e espiritual da população pelotense, tendo se tornado um exemplo para a comunidade e para os profissionais que a UFPel se propõe a formar.
A homenageada construiu uma jornada atuando em defesa da saúde das populações vulneráveis, da justiça social, dos direitos humanos e da proteção ambiental. Sua prática cotidiana, fundamentada em saberes ancestrais e em uma espiritualidade profundamente enraizada no território, tem contribuído para a valorização e a transmissão de conhecimentos populares e tradicionais no cuidado com a vida humana e com o território.
O legado de Irmã Assunta ultrapassa os registros religiosos e assistenciais, projetando-se como uma prática de resistência cultural, de construção de autonomia e de promoção da dignidade. Sua atuação junto à Casa do Caminho e às diversas comunidades de saúde popular expressa um compromisso contínuo com a educação popular em saúde e com a construção de espaços de cuidado integral.


A médica Kelen Cerqueira, que coordena o Núcleo de Práticas Integrativas da UFPel, apresentou as credenciais da religiosa à láurea. Em sua fala, ressaltou que a Irmã Assunta valoriza aquilo que o sistema despreza: as cascas descartadas dos alimentos, saberes ancestrais, corpos adoecidos e invisibilizados. Sua ação, disse, revela uma contra-história: ela resgata o que é ocultado, ignorado ou rotulado como improdutivo.
“Tudo que foi feito por ela nasce de um compromisso ético e espiritual com a vida em seu estado mais frágil, mais vulnerável. Isso dá à sua trajetória um peso quase sagrado. Irmã Assunta não está nos livros didáticos, nem nos palanques, nem nas manchetes. E, ainda assim, é uma das maiores figuras humanitárias da história do Rio Grande do Sul”, destacou.
Segundo ela, seu legado é invisível aos olhos do poder, visível na transformação dos corpos, das casas, dos quintais, das comunidades que tocou. A coordenadora afirmou que a vida da homenageada representa, com rara integridade, o compromisso com os valores que fundamentam a universidade pública: promoção da justiça social, respeito à diversidade epistêmica, a valorização da dignidade humana e diálogo com os territórios invisibilizados pela história oficial. “Por isso tudo, a UFPel, ao conceder o título não apenas homenageia uma trajetória singular, mas reafirma seu papel como universidade pública, de reconhecimento, reparação, valorização de experiências que constroem o Brasil das margens ao centro”.

Após receber o título, a Irmã agradeceu à comunidade que trabalhou e lutou junto a ela. “Agradeço de coração esse título, mas ele é de Jesus Cristo. O trabalho não é meu, é d’Ele”, disse. A Doutora Honoris Causa pediu, na ocasião, que todos zelem pela continuação do trabalho com o povo, ao qual dedicou toda a sua vida. “Deus nos entregou o mundo para cada um dar um pouco de si para as pessoas que precisam mais. Somos apenas instrumentos de Deus para fazer o bem”, afirmou.

Na cerimônia estavam presentes as Irmãs Teolide Secretti e Luciane Piovesan, respectivamente, Coordenadora e Vice-Coordenadora da Província Maria Mãe de Deus.
O título de Doutor Honoris Causa é uma das mais altas distinções concedidas por universidades e instituições de ensino superior em todo o mundo. Destina-se a personalidades que se destacam por sua contribuição significativa à humanidade, seja nas áreas da ciência, educação, cultura, vida pública ou serviço social. Sua concessão reconhece trajetórias que ultrapassam o campo acadêmico, valorizando experiências de vida, compromisso ético e dedicação ao bem comum. Receber essa honraria é um gesto de profundo respeito e gratidão da sociedade àqueles que fazem da própria existência um exemplo de sabedoria, solidariedade e amor ao próximo.
Com informações da Comunicação da UFPEL
