Irmã Maria Freire da Silva sobre o Conselho Plenário: “momento de escuta, acolhida e diálogo”

Leia a íntegra do discurso da Irmã Maria Freire da Silva, Diretora Geral da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, na abertura do Conselho Plenário Geral.

Porto Alegre (RS), 17 de Outubro de 2023.

Abertura do Conselho Plenário da Congregação

Tema: ICM “Em fidelidade à raiz fundacional, no compromisso místico-profético com a vida”
Lema: “Saiamos às pressas, a vida clama (Lc 1,39)

Queridas Irmãs,

Estamos realizando nosso Conselho Plenário Geral da Congregação, em um contexto sócio, econômico, político e eclesial bastante diversificado em âmbito Nacional e Internacional, adicionando condicionantes climáticos. O Papa Francisco, ao falar da crise climática, nos diz: “os sinais da mudança climática impõem-se nos de forma cada vez mais evidente. Ninguém pode ignorar que, nos últimos anos, temos assistido a fenômenos extremos, a períodos frequentes de calor anormal, seca e outros gemidos da terra que são apenas algumas expressões palpáveis duma doença silenciosa que nos afeta a todos. É verdade que nem todas as catástrofes se podem atribuir à alteração climática global”.

Os problemas que assolam nosso país: a seca e as enchentes, o sofrimento dos povos originários, a violência, a população de rua e outros, nos geram impactos. Estamos assistindo à guerra da Rússia com a Ucrânia que se arrasta a mais de ano; e agora no Oriente Médio. O mundo está sendo palco do despautério e do ensimesmamento humano.

Ao contemplar esse panorama, em fidelidade à raiz fundacional, no compromisso mistico-profético com a vida”, somos convidadas a superar o enclausuramento em nós mesmas, a indiferença obscura, o ensimesmamento e “aumentar o espaço de nossa tenda Congregacional (Is 54,2). É necessário entrar no caminho da metanoia que consiste em esvaziar-se. Diante dessa realidade, olhamos para a Cruz de Jesus e, como diz o Papa Francisco: “Com o coração no ouvido, o que ouvimos, o que os nossos olhos viram e o que as nossas mãos tocaram, a palavra fez-se solidariedade global”.

Essas experiências são recapituladas no tecido da kénosis, onde são acrisoladas no interno humano, ascendendo ao itinerário místico, em uma nova experiência que é a do evisceramento e do espaço alargado pelo Espírito Santo, que o modela segundo a estatura do Cristo (Ef 4,13b). Isso requer a descentrabilidade humana, Congregacional, conduzindo à uma mistagogia onde o centro de reconfiguração mistagógica é a encarnação do Verbo. Conhecer Deus enquanto Trindade exige um caminho mistagógico, uma infinita dinâmica de revelação e escondimento, proximidade e distanciamento, interiorização e exteriorização, diálogo e participação, requer originalidade e pertença congregacional e eclesial.

O processo sinodal que vivemos e participamos, nos faz compreender a importância da construção da sinodalidade para o povo de Deus, e sobretudo para as mulheres nas instâncias eclesiais e agora, através da Assembleia do Sínodo, em Roma. O Sínodo significa (pensar, falar juntos) entre aqueles que caminham juntos, a fim de discernir a mensagem do Espírito e avançar em direção a uma “comunhão” que é o objetivo último desse processo e dessa caminhada. Nos interpela a uma nova consciência Eclesial, a sermos discípulas missionárias da escuta, do diálogo, da participação e da missão.

A UISG (União Internacional das Superioras Gerais) nos exorta ao dizer: “Como mulheres Consagradas na Igreja, desejamos viver a nossa vocação como uma presença transformadora, dando testemunho de paciência, mas também de persistência e de resistência. O Mistério Pascal lembra-nos que através da resposta não violenta de Jesus, Deus age de forma surpreendente para construir a paz no nosso mundo. Um desejo de caminhar juntas como uma comunidade de pertença, com todo o povo de Deus, igual em dignidade e diverso em vocação, num mundo e num planeta sedento de justiça e paz, na esperança de Cristo Ressuscitado. Ser testemunhas de uma vida religiosa arejada e alegre que se transforma e transforma”.

Daí sempre brota a necessidade da escuta, e esta escuta é exigente, requer uma disposição que começa com um “vazio”, um fazer espaço, um sair do “meu próprio amor, do meu querer e do meu interesse” (Ex 18,7-9) e dispor-me a receber. A escuta verdadeira contém a esperança, perspectivas, criatividade, visão de futuro, sentido de vida. Como dizia Santo Agostinho: “Não tenha seu coração em seus ouvidos, mas seus ouvidos em seu coração”. A escuta faz parte de nossa missão. Dizia Banhoeffer: “aquele que não souber escutar seu irmão, não será capaz de escutar a Deus”. O diálogo se baseia no poder e no mistério da palavra. Poder para dizer da realidade, para dizer de nós mesmas. A palavra é um dos instrumentos mais poderosos que temos para nos expressar, para abrir um caminho, para exteriorizar nossa interioridade e, obviamente, para comunicar e dialogar.

O Plenário é um momento de escuta, de acolhida e de diálogo, de falar, participar, construir juntas num espírito de pertença, momento de investir, vestir e revestir sempre, de forma nova, na escuta da intuição primeira que dá corpo ao Carisma congregacional, no drama do amor Incondicional. É necessário amar para defender, é necessário paixão para lutar por aquilo que eu sou: Congregação.

O Conselho Plenário Geral nos tira da sonolência e do desmemoriamento do sentido da nossa Consagração. Me faz escutar a Palavra de Deus que me diz: “Um anjo do Senhor, tocando no lado de Pedro, o despertou dizendo: Levanta-te depressa”(At 12,7). Por que estou de pé na Congregação? Qual é o meu espaço? Como sou no mundo congregacional? Onde estou? Quais são as cores do Carisma e da Missão ICM em mim? Qual espiritualidade me alimenta nessa caminhada? Qual é o meu foco quando contemplo o futuro próximo? O Compromisso com o Reino de Deus e suas consequências indica o caminho: “Saiamos às pressas, a vida clama”.

Maria, mulher que sai apressadamente, vai escutar e dialogar com Isabel sobre as maravilhas divinas. Em Aparecida, Maria traz as marcas da fidelidade ao Senhor da história que fez Aliança com Israel e, na plenitude do tempo, no kairós divino, inaugurou a Nova e Eterna Aliança no seu Filho amado. Fiel ao Senhor, Bárbara Maix deixou Viena e vislumbrou novos horizontes onde daria vida a seu Projeto. Como estamos, e onde queremos chegar? Em nossos espaços de missão, como estamos vivendo o Foco Comum: Juventude e mulheres do XX Capítulo Geral Ordinário?

Queridas Irmãs, como disse nossa Fundadora: “A SS Trindade iniciou a Obra da Fundação e há de completá-la”. Certa disso, declaro aberto o Conselho Plenário Geral da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, no ano de 2023.

O Imaculado Coração de Maria nos conceda as graças necessárias e a nossa Bem-Aventurada Bárbara Maix seja força na caminhada. O dinamismo trinitário de Deus nos ilumine.

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