Discurso de Abertura da Assembleia da União das Superioras Gerais das Congregações Brasileiras

Queridas Irmãs Superioras Gerais do Brasil,

Com alegria, quero estender as boas-vindas especiais à nossa convidada Presidente da União Internacional das Superioras Gerais, Irmã Nadia Coppa, da Congregação Adoratrici del Sangue di Cristo diretamente de Roma na modalidade on-line.

Também saudamos à nossa Presidente da CRB Nacional, Irmã Eliane Cordeiro de Souza, da Congregação Mercedária da Caridade, e outros membros da Diretoria aqui presente.

Saúdo ao senhor Henrique Peregrino da Trindade, que vai nos assessorar, italiano, vindo da Bahia. Saúdo a Dra Eliane Da Lux Mundi.

Com o Tema: Transformar as Vulnerabilidades em criatividade profética – a vulnerabilidade como caminho de possibilidade de transformação, queremos impactar um pouco de nossas vidas. Isto requer que estejamos preparadas para abordar os grandes questionamentos de que o mundo da Vida Consagrada em geral está fazendo e que surgem com novas roupagens a cada geração e cada mudança cultural ou intercâmbios de culturas diferentes em nossas Congregações. Transformar as vulnerabilidades, exige amor, conhecimento, paciência, persistência e cuidado. Cuidar carece empreender com ternura, “vigor, entusiasmo e resiliência. Perceber e trabalhar as vulnerabilidades como caminho de possibilidade de transformação exige um ritmo constante e inovador. Há fortes tendências já em pleno desenvolvimento e outras ainda em estágio inicial, mas com potencial para a criatividade. Criar é um ato profético, transformar é profecia, onde a beleza estar em projetar possibilidades, em potencializar os talentos, os dons de cada uma assumindo as nossas vulnerabilidades.

Trago presente alguns elementos sobre uma personagem bíblica, para nos fortalecer em nossa profecia: Não nos basta uma inflação espiritual levada ao extremo numa superatuação da consciência, do ego e da razão, em uma rigidez da consciência. É preciso exercer a profecia de forma estratégica, ser como a personagem bíblica, a rainha Ester, que usou sua inteligência com muita polidez. Ester nunca tinha participado de um banquete, e, no primeiro que participou se tornou rainha. Estava fina educada, com uma postura polida e majestosa. Até parecia que vinha de uma linhagem real. Tinha um porte de princesa, lidava com o protocolo real como se tivesse nascido para isso. O diadema real na cabeça de Ester não foi apenas um objeto de enfeite de um deslumbramento de um poder feminino que se adorna para seu marido. Mas reinaria junto, formaria parceria com o rei utilizando as estratégias possíveis e viáveis em sua operação na defesa da vida do seu povo. Ester mostraria na hora certa suas habilidades intelectuais, toda força e riqueza de seu raciocínio, uma comunhão de entendimento, entre ela e Assuero deveria se estabelecer.

A Meta de Ester

Para isso, era necessário descobrir a unidade e a relação estrutural da Côrte, e como argumentar com seu marido sobre as questões de estado. Sua calma imperturbável espalhava-se em seu belo rosto, que não permitia que seus pensamentos fossem percebidos. Precisava saber concordar com Assuero ou discordar de modo inteligente, e para isso, suas idéias deveriam estar ordenadas logicamente. Isso exigiam que estivesse a par dos detalhes dos acontecimentos e da caracterização do reino. O desenrolar desse enredo é a conexão dinâmica com a pessoa do rei. Sua alma era por demais resistente, não deixava que as emoções manipulasse sua imaginação a respeito de seu projeto na defesa do povo. Dessa forma, desenvolveria, um padrão de crítica a respeito de Amã, seu inimigo, que convencesse Assuero. Sua forma de resolver o problema era reivindicando uma punição para Amã e a salvação para os judeus. Essa era a sua meta.

Tinha enorme capacidade de resiliência, habilidade com o protocolo real. Era um esforço do qual Ester pretendia ser recompensada. Ia conhecendo os hábitos, as regras na tentativa de alcançar o conhecimento elevado do sistema para dominá-lo. Portanto, estava devidamente adaptada na estrutura da côrte. Podemos ler isso nas entrelinhas do texto, esse comportamento de Ester era apenas o prelúdio da posse sobre o rei. Ester não pensava em atos isolados mas, como em seu campo de visão apareciam as províncias, toda dimensão do reino, e nesse onde estava o povo judeu espalhado. Certamente Ester sente uma carga sobre si, porém, o desafio que o tio lhe fez, a tira de sua zona de conforto e faz com que haja um deslocamento em sua vida. Agora que estava se habilitando à nova vida, surge esse problema tão difícil. Precisava reinventar-se, fortalecer-se, ser resiliente e fazer do rei seu aliado.

Mardoqueu não se deu por vencido, desafiando-a, a perceber que sua elevação a realeza poderia ter sido em vista desse momento, para salvar o povo das mãos dos inimigos. Interpelada por Mardoqueu, Ester organiza o processo de libertação do povo convocando a população judaica a orar e a jejuar durante três dias e três noites, com ela e com suas servas para depois apresentar-se ao rei disposta até a morte.

A força da Oração – uma inteligência espiritual – em humilhação, em sua solidão, em seu aniquilamento e em sua súplica incessante a Deus. Sua oração sobe ao Senhor, o princípio de sua vida e da história de Israel. Sua súplica a seu Deus era ardorosa, confiante, pois sabia que Ele conduzia a história do povo judeu. Era como se suas entranhas se rasgassem num grito de aflição e esperança. Exprime sua angústia, sua incompatibilidades com os festins reais, com os adornos de rainha, sua tristeza com sua nova condição, e por fim revela seu medo de morrer. No entanto, esse comportamento tem muitos significados na mentalidade de Ester como judia. Estava em jogo sua nacionalidade, seu povo, sua religião. Os três dias para Ester foram como um mês, em um jejum radical totalmente entregue a prece.

Guarda no coração a amargura, a insegurança e mostra em seu rosto, a jovialidade do belo, transmitindo segurança, exprimia tranquilidade. Diante de Deus Ester se preparou durante três dias, inclinou-se em sua dor, mas também em sua esperança. Tinha que liderar o plano de salvação de seu povo. Como rainha tinha seus compromissos com a Nação, mas, agora era a vida dos judeus, estrangeiros no reino da Pérsia. Após sua súplica ao Deus de Israel, tinha que sair do seu esconderijo e demonstrar sua força na arte de liderar. Estava plena de uma força espiritual muito grande. (Gustavo e Magdela (2002)).

A oração de Esther é provavelmente o cume teológico de todo o livro grego: aqui Deus é o único capaz de entender a dor de sua autoria e transformá-la em alegria (Est 4,17k-l). Tanto Ester, como Mardoqueu, afirma ter permanecido fiel e não ter ficado satisfeito com seu papel de prestígio (Est 4,17r-y). Em nome dos judeus, ele pode, portanto, para levantar sua última súplica: “Ó Deus, que exerce força sobre todos, ouve o a voz dos desesperados, livra-nos da mão dos ímpios, e me livra da minha angústia” (4,17z).(p. 12)

A Beleza Como a Arte do Poder (Autoconsciência)

“Belo é o que é sempre desejável” (Eurípedes)
A beleza se refere a harmonia das coisas, as proporções. Também se refere a valores éticos, caráter, dignidade e autenticidade. Um encontro com a beleza é um encontro sempre da ordem do transcendental. Ester estava diante de uma crise. Agora, nesse turbilhão de emoções, como lidar com os novos sentimentos. Como ser inteligente nesse momento, como articular a libertação de seu povo, em uma adversidade sem igual, onde a dor abrasava suas entranhas e as forças dos poderosos controlavam o poder. Como lidar com suas próprias emoções? Por um lado, sua nova condição diante da côrte, como rainha, por outro lado, a vida de seu povo, suas origens. No entanto, sua inteligência espiritual lhe dar a capacidade de intuir valores, o valor é um ponto na linha do horizonte. Os valores convidava Ester a uma contemplação mais profunda da realidade. Um olhar atento à essa narrativa bíblica nos permite observar a mulher em que Ester vai se transformando moldando sua identidade, com forte julgamento, magnífico autocontrole e uma capacidade de sacrifício extremo. Estava revestida de uma resiliência indescritível.

Ester se sente interpelada pelo grande poder transformador que existe na fascinação pelo belo através do descentrar-se de si; o vazio sempre crescente que vai se tornando habitado até afastar todas as desarmonias antes presentes, para então sentir-se preenchida através da oração, do jejum e da incessante busca da Vontade de seu Deus a seu respeito na defesa da vida do seu povo. É preciso uma inteligência lógica que planeje a forma de se aproximar do rei. Ester tornou-se uma mulher de traços elegantes, postura firme e educação fina. Era importante aprender a lidar com os labirintos do poder que embalsamava a côrte.

O desejo de Ester e a estratégia do Banquete (Nossos sonhos, nossas estratégias)
A mulher o que tinha de belo, tinha de persistência e de estrategista, corajosa na arte de seduzir. Gerenciando as Emoções: Ester começa a focar nos objetivos

“A única pessoa a que você está destinado a se tornar é a pessoa que você decide ser”(Ralph w. Emerson). transformaria a partir dos bastidores da côrte gerando empatia, e sobretudo avassalou o coração do rei. Pensaria além de suas muralhas. No âmbito da consciência social, em seu aspecto primordial, compreende as correntes políticas que regem a côrte, e por isso, se comporta da maneira esperada por Assuero, adaptando-se ao ambiente para tirar proveito. Com perspicácia percebe as diferentes perspectivas e modo de agir de Assuero na lógica da Côrte. Entretanto, havia em sua interioridade uma força articulada a uma capacidade pensante incapaz de se curvar. Sua beleza revelava um caráter da largueza de sua inteligência, de sua vontade e competência em suas projeções, um espírito de grande envergadura, geradora de impacto em sua sociedade. Sua liderança revelava o verdadeiro papel de um líder: fazer com que os outros façam. Fazia isso através de Mardoqueu e do povo. A aparente submissão de Ester era puramente um jogo de arte de poder, para atrair e convencer seu marido a fazer o que ela queria, sem precisar conflituar. Era tudo muito bem pensado. Tudo era planejado para dar certo. Era inteligente e astuta até a hora da morte, que ninguém sabe quando foi. Houve descentramento humano, que retirou tanto Assuero quanto Ester, do curvar-se para si mesmos, e os jogou na complexidade do totalmente outro.

Toda essa realidade da vida de Ester é possível concatenar os elementos mais relevantes para a compreensão de um trabalho interativo capaz de desenvolver nas lideranças na Vida Consagrada uma parceria no compartilhamento das vulnerabilidades e das potencialidades. É como a força perpassando todos os acordes de uma partitura, na confiança, na coerência, na alegria e na visão de futuro que impulsionou nossos fundadores e fundadoras. Hoje, aumenta as populações de pobres, que dançam nas ruas a música do desafinos políticos , econômicos e culturais. Por outro lado, as mudanças climáticas se destacam como um dos mais sérios desafios globais, dos quais o futuro da humanidade depende perigosamente.

A cooperação internacional entre nós, partilhas de experiências acontece em grande escala. Nutrir a cultura da comunicação, reforçar o trabalho em rede de colaboração, na confiança e na autoconfiança. Somente tecendo boas relações é que se pode construir a sinodalidade na missão. Precisamos nos reestruturar em nossas Instituições, carecemos nos reinventar sob o olhar para o futuro de nossas Congregações. Liderar, tendo o futuro sob o olhar, é como trabalhar em uma partitura, onde a pauta contém apenas 5 linhas, e quatro espaços, mas, nessas, você escreverá as notas musicais que são apenas sete.

Estamos no processo sinodal, às portas da realização do Sinodo, o desejo do Papa Francisco de uma Igreja sinodal, caminhar juntos, construir sinodalidade, é o nosso desejo, e estamos contribuindo para isso em nossas Comunidades. Essa assembleia será um tempo oportuno para compartilhar experiências, anseios, desafios e indicações de soluções. Foram muitos os caminhos trilhados e são muitos os caminhos a percorrer. Tudo em nossa vida se move para o futuro, porque se move para Deus Trindade unidade e relação de amor, de reciprocidade, de fraternidade universal, de uma valsa inacabada nas mais belas melodias, mas recomeçada com a mesma beleza a cada passo de novas dançarinas que somos nós.
Tenhamos uma produtiva Assembleia, possamos contribuir a partir de nossas vulnerabilidades com um jeito Novo de ser consagradas.

Irmã Maria Freire da Silva.
Diretora Geral da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria
Delegada da USGCB

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