Artigo Mensal: Gregório Nazianzeno e Basílio Magno

O mês de janeiro de 2024, na densidade do culto a inúmeros santos e santas, iniciando o Título de Maria Mãe de Deus, a Senhora da Paz, também nos apresenta dois Padres da Igreja do século IV: Gregório Nazianzeno e Basílio Magno, no dia 02.01. Dois pilares da Igreja do Oriente, os criadores da linguagem trinitária oriental, dois gênios que, juntamente com Gregório de Nissa irmão de Basílio, contribuíram para a elaboração da linguagem sobre a Trindade Santa.

Gregório Nazianzeno (329-389), ao tratar da Comunidade Trinitária, parte originariamente do Espírito para passar deste centro à contemplação do Filho e do Pai, e não há nenhuma contemplação do Espírito sem o Filho e sem o Pai e nenhuma contemplação do Pai sem o Filho e sem o Espírito. Essa é a dinâmica pericorética Trinitária. A Trindade não é uma sociedade fechada, enclausurada amante em si mesma, sem derramar seu amor para o outro, totalmente outro que é a sua criação. Ela, a Trindade, não se limita às relações de origem e procedência, mas também a finalidade operativa. Deus se revela criando e amando sua criação. Deus faz história conosco. Aqui, é importante perceber não apenas como a experiência é narrada, mas, também, como se forma a comunhão ao longo das gerações. A comunhão das gerações acontece mediante a narrativa histórica e as relações sociais de justiça. Perder isso é perder a Tradição e a Memória.

Basílio Magno(330-379) “se deu conta de que não poucas flutuações doutrinais tinham sua origem em uma inexata formulação devida à pobreza da linguagem para expressar o dito mistério. Confundia-se a palavra ousia com a palavra hipóstasis. Desta maneira, a confusão dava lugar a uma compreensão do mistério da Trindade, obscurecendo a fé no mesmo.(7) No intuito de buscar uma formulação que expressasse com maior exatidão o que Deus quis revelar a todos os homens, sobre o mistério Trinitário, Basílio classificou a expressão da fé, sobre o mistério Trinitário, codificando a expressão seguinte: “Mia Ousía e três hipóstasis”. Basílio a partir da fórmula de Mt 28, 19 afirmara que a comunicação dos Três no batismo manifesta o Espírito Santo na união com o Pai e o Filho na mesma dignidade de louvor. Nazianzeno retoma de Basílio o tema sobre a relação, em que afirma: o Pai é sempre Pai e o Filho sempre Filho. Pai e Filho não indicam uma essência, mas uma espécie de ação, uma relação entre os dois sujeitos que compartilham (comunicam) a mesma ousia. Em sua Oração 31, afirma: o Pai, o Filho, o Espírito Santo apresentam a distinção das três Pessoas na única ousia e na única dignidade da divindade. A comunhão Trinitária não constitui um círculo fechado, mas aberto para a criação.

Nazianzeno e Basilio foram Padres, Doutores da Igreja que contribuíram com a Doutrina Social da Igreja, com uma visão antropológica a partir do ser humano bíblico. Os pobres foram os sujeitos históricos, a serviço dos quais Basílio demonstrava sua ética e solidariedade, também sua indignação contra aqueles que roubavam os pobres, seus direitos, sua dignidade.

A Pericórese (Comunhão) tanto na dinâmica (imanente) interna quanto na perspectiva para fora, (econômica) retrata a circularidade de Deus em suas relações recíprocas que ultrapassam a Comunidade Divina espelhando o universo em seu todo. Gregório recorda-nos que, como pessoas humanas, devemos ser solidários uns com os outros. Escreve: “Todos nós somos uma só coisa no Senhor” (cf. Rm 12, 5), ricos e pobres, escravos e livres, sadios e doentes; e única é a cabeça da qual tudo provém: Jesus Cristo. E como fazem os membros de um só corpo, cada um se ocupe do outro, e todos de todos”. Depois, referindo-se aos doentes e às pessoas em dificuldade, conclui: “Esta é a única salvação para a nossa carne e para a nossa alma: a caridade para com eles” (Oratio 14, 8 de pauperum amore: PG 35, 868ab).

Gregório ensina-nos antes de tudo a importância e a necessidade da oração. Ele afirma que “é necessário recordar-se de Deus com mais frequência de quanto se respira” (Oratio 27, 4: PG 250, 78), porque a oração é o encontro da sede de Deus com a nossa sede. Deus tem sede de que nós tenhamos sede d’Ele (cf. Oratio 40, 27: SC 358, 260). Na oração devemos dirigir o nosso coração para Deus, a fim de nos entregarmos a Ele como oferenda para purificar e transformar. Na oração vemos tudo à luz de Cristo, deixamos cair as nossas máscaras imergimo-nos na verdade e na escuta de Deus, alimentando o fogo do amor.

A encarnação do Verbo é reveladora dessa verdade relacional e, portanto, se expressa como ato Trinitário de Deus. A vida de Deus aparece totalmente concentrada, expressa no dom mútuo do Pai ao Filho e do Filho ao Pai na unidade do Espírito Santo. Daí que em sua ação missionária Jesus manifesta a face a Deus e a face da humanidade. O ser de Deus, mais que dom, comunicação abraço, totalmente voltado para o Pai e para toda criação. O Filho entregue ao Pai comunica o Espírito Santo e se dá no dinamismo Trinitário na história e no coração humano. A doxologia de Basílio de Cesaréia no séc. IV afirmava: “Glória ao Pai com o Filho com o Espírito Santo”.

Com o coração voltado para a Trindade Santa, possamos novamente nos envolver por sua poesia sobre a Trindade Santa escrita e declamada por Gregório Nazianzeno cantor da Trindade, do esplendor divino, o Teólogo.

Tu és o além de tudo,
afinal, o que mais pode-se dizer de ti no canto?
Como poderá louvar-te a palavra?
Afinal, nenhuma palavra pode te narrar
Como te contempla o intelecto?
Afinal, nenhuma inteligência pode te captar.
Só tu és inefável,
pois as palavras a ti devem sua origem.
Só tu és o incognoscível,
pois os pensamentos a ti devem a origem.
Todas as coisas te cantam,
tanto as que têm voz,
quanto as que não a têm.
São comuns os desejos
de todo ser criado,
comuns os gemidos
que te cercam totalmente.
Com súplice oração
te invoca o tudo.
A ti é dirigido um hino de silêncio:
pronunciam-no todos os seres
que contemplam tua ordem.
Só por ti tudo permanece.
Só por ti tudo se move
no movimento universal.
E de todas as coisas,
tu és realização:
um, tudo, ninguém,
mesmo que não sejas nem único nem todos.
Tens todos os nomes: como te chamar,
se és o único que não se pode nomear?
Filho do céu, que intelecto penetrar
que se estendem por sobre as nuvens?
Sê benigno, tu que és o além de tudo;
afinal, o que mais poder-se-ia dizer de ti no canto?

Por:

 


Irmã Maria Freire da Silva.

Diretora Geral Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.
Bacharel e mestra pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo e doutora em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, Itália.

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