Artigo Mensal | Eulália, mártir: adolescente e adulta na fé

Santa Eulália nasceu no ano 290, em Barcelona, na Espanha e faleceu em 304. Foi uma jovem cristã que sofreu o martírio sob Diocleciano, no III século do Cristianismo. É venerada pela Igreja Católica no dia 12 de fevereiro e é a padroeira de Mérida e Oviedo . Uma possível duplicação é Eulália de Barcelona (290-303), cuja história é semelhante a de Eulália de Mérida, celebrada dia 10.12. No entanto, é dito que ela faleceu em Mérida.

Desde cedo, Eulália sentia no coração o desejo de professar-se cristã, motivo que, segundo a tradição, seus pais a esconderam-na numa casa no campo para impedi-la de se entregar à justiça para se proclamar cristã. Mas, forte na fé, a menina de 12 anos fugiu de casa, atravessou descalça o campo congelado, chegou à cidade e apresentou-se na corte, onde sua única palavra foi: “Eu acredito”. Para os perseguidores essa palavra ecoou como uma blasfêmia. Diante de sua recusa em realizar culto aos deuses pagãos, foi sentenciada à morte. Após ter sido cruelmente torturada e terrivelmente mutilada durante muito tempo, ela foi colocada num braseiro. Diz a tradição que flores brancas desabrochavam no cemitério, mesmo estando em pleno inverno. É dito que o juiz ainda tentou cativar Eulália para a religião oficial, o que “ela, porém, em vez de responder à voz cativante do sedutor, atirou para longe o turíbulo, com que devia incensar as imagens das divindades”. Queimando no braseiro, Eulália gritou: “Agora, meu Jesus, vejo no meu corpo traços da Vossa Sagrada Paixão”.

Conforme a Tradição, “Eulália teria resistido às torturas com uma força surpreendente: nos sinais dos golpes recebidos teria visto os testemunhos das vitórias de Cristo. Ao ser entregue às chamas das tochas, ela teria se jogado sem hesitação para ser engolida pelo fogo para apressar sua passagem para a vida eterna. Segundo o mito, sua alma emergiu da boca do mártir na forma de uma pomba branca. O milagre teria feito fugir os atônitos carrascos. O corpo mutilado de Eulália, abandonado no meio de uma estrada, estava coberto por uma manta de neve semelhante a um lençol de linho, interpretado como sinal de honra da divindade”.

Importante ressaltar que “não temos indicações cronológicas certas de seu martírio. Prudêncio nomeia “Maximiano” e a Passio. Eulália coloca seu martírio sob o domínio de Diocleciano, mas a notícia não deve ser aceita sem reservas. Na verdade, devemos ter em consideração que, quando a cronologia de um martírio não era conhecida, a tendência era situá-lo no início do século III sob Diocleciano , cujo colaborador próximo e cúmplice implacável foi Maximiano, porque este imperador foi culpado pelo que aconteceu na história como a “ grande perseguição ”.

A tradição identifica Eulália como uma criança mártir. Na verdade, sua morte teria ocorrido com apenas doze anos, em Mérida. Eulália, em grego, significa “belo discurso, a eloquente, a que fala”. No entanto, a mártir disse apenas uma palavra diante do juiz: “eu acredito”. Eulália permaneceu a Mártir toda branca, manchada de vermelho: duas cores claras e insubstituíveis, a da pureza e a do amor, entre as muitas que compõem o arco-íris da santidade.

Isso demonstra a coragem de uma adolescente, com um ardente desejo de seguir Jesus Cristo até as últimas consequências. Sua adolescência foi tragada pelo amor fiel e verdadeiro a Jesus Cristo. Não conheceu o medo que a paralisasse ou que impedisse de professar a sua fé, na grandiosidade de seu coração tão criança. Não se intimidou diante dos perseguidores, homens cruéis envenenados pela falta da verdade e sedentos de sangue dos inocentes. Sua dor não a levou a negociar a sua fé, mas lhe deu a fortaleza, e soube olhar seu sofrimento a partir da paixão de Jesus. Era uma forte expressão de sua eterna alegria, que na tenra idade, se entregou de corpo e de alma ao Senhor da vida. Eulália se mistura à grande multidão de mártires, mulheres e homens que enfrentaram os algozes, dando seu grito de liberdade, confirmando na cara dos agressores: “Eu acredito”.

Eulália segue sendo um modelo de vida para adolescentes, jovens, adultos que não negociam a sua fé no Tudo que é Jesus Cristo. O “Eu acredito” de Eulália, continua açoitando o rosto daqueles que não conhecem a verdade, dos que colocam sua confiança nos deuses falsos, que incensam os deuses fracassados, que não ressuscitam, porque nunca viveram. Eulália não incensou deuses falsos, o incensário ao Deus da Vida, foi seu próprio corpo, a resina foi seu coração queimado fazendo subir aos céus o aroma da fidelidade. A convicção, a pertença a Jesus incomodou aos carrascos, sua firmeza em dizer que acreditava, provocou o ódio violento nos perseguidores, que logo lhe deram a sentença de morte. Eulália ainda tão criança-adolescente, na pureza de sua vida, não pensou em nada, a não ser sua paixão amorosa por Cristo. Sua ousadia nos envolve, seu caráter ardente, seu corpo ardendo nas chamas é pré-anúncio de um corpo novo queimando-se de amor por Jesus Cristo. Eulália era adolescente, mas, era adulta na fé. Isso mostra a relevância do testemunho dos mártires em sua ousadia profética, no batismo de sangue.

Seu testemunho pode iluminar a vida das Comunidades, das mulheres que agem teimosamente contra a violência, que enfrentam aqueles que querem matar a vida, ela não foge do seu compromisso, não se preserva fechada em uma casa de campo como queria sua família, mas, guiada pelo Espírito Santo vai ao centro do poder para desafiá-lo com a força de sua fé. Morreria, mas deixaria na mente e na visão dos seus carrascos a força e a teimosia do Evangelho e da Ressurreição do Senhor. Sua audácia e pertença evangélica, foi como flores manchadas de sangue florescendo nas devoções dos fiéis, nas experiências das Comunidades que a tem como Padroeira. Estava consciente de que ao expressar sua fé, estava defendendo o Projeto do Ressuscitado. Mais do que nunca, a sociedade de hoje, é carente de Eulálias que se doam sem medida na manifestação Daquele que é a Luz que brilha no universo, acendendo todas as constelações, iluminando a noite do nada e a humanidade em caminhada.

Por:

 


Irmã Maria Freire da Silva.

Diretora Geral Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.
Bacharel e mestra pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo e doutora em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, Itália.

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