Artigo: A figura de Maria no cotidiano dos Padres da Igreja

Estamos iniciando o mês de julho, recentemente celebramos a Festa do Imaculado Coração de Maria, e nesse dia, foi inaugurado a nova face do nosso site ICM. Pretendo aqui retornar aos primeiros séculos da Igreja especialmente ao IV séc. e perceber como os Padres da Igreja viam a figura de Maria no cotidiano. Vamos resgatar alguns fragmentos do pensamento mariológico de Atanásio de Alexandria sobre Maria.

“Tem uma bela distinção entre uma partitura musical e a execução da mesma.
A Bíblia é como uma partitura musical, mas,
a vida de Maria é a execução perfeita e incomparável do concerto”.
(Francisco de Sales)

Seguindo a tradição de Orígenes que afirmava ser Maria um modelo autêntico, permanente e insuperável na vida cristã, Atanásio mantém o fio condutor e afirma que Maria possuía todas as qualidades. Demonstra que a mesma se orientava para o melhor de dois modos:
a) lhe era prazeroso operar retamente seus deveres e se mantinha fiel e íntegra no sentido da fé e da castidade;
b) Maria era totalmente centrada em Deus, sem buscar fama ou visibilidade humana alguma.
Diz que, assim como a mosca é fascinada pelo mel, Maria era fascinada por seus deveres, totalmente voltada para o serviço aos pobres, em fidelidade às Sagradas Escrituras.

Epifânio de Salamina compreende que era santo o corpo de Maria por ser espaço do salvador, mas, que ela não era uma divindade, porém afirma, uma santidade virginal sem defeitos. É evidente a preocupação catequética no uso da linguagem, como também a radicalidade na defesa da divindade de Jesus, o que supõe apresentar uma figura de Maria revestida de uma linguagem que ofereça, harmoniosamente os traços que vão configurando a afirmação da maternidade divina e da santidade virginal, em vista tanto da consubstancialidade do Filho com o Pai, como também reforçar Maria como modelo para a virgindade ascética. Percebe-se que os primeiros séculos do cristianismo foram importantes para a construção de um retrato da Virgem. Os padres da Igreja vão articulando elementos, alguns retirados da Sagrada Escritura, outros de livros apócrifos. É evidente a presença da Tradição e do Sensus fidelium nos escritos dos padres. Dessa forma, também o pensamento de Atanásio de Alexandria vem perpassado dos argumentos anteriores, II e III séculos, sobretudo no que se refere à antítese: Eva-Maria ou Maria a Nova Eva, Causa Salutis de Irineu de Lião através de seu modelo-analógico e simbólico; e das três características principais Orígenes: a Theotókos a maternidade divina, a concepção virginal; e a virgindade perpétua.

Em Orígenes, é fundamental considerar o termo modelo de virgindade aplicado a Maria, como também o de exemplaridade tão caros à Atanasio que os retoma e os aprofunda como modelo para o itinerário ascético dos cristãos, e, sobretudo das virgens. O retrato que Atanásio modela após apresentar Maria a Theotókos, a Mãe de Deus, tem como objetivo formar o caráter das virgens a serviço do Evangelho. Sublinha a dimensão salvífica da encarnação, e consequentemente aponta a dimensão salvífica da maternidade de Maria que dá a Cristo a carne com que nos redime. A maternidade divina é, com efeito, base indiscutível e garantia da encarnação do Filho de Deus.

A figura de Maria como modelo ascético deve espelhar a vida dos cristãos e, sobretudo das mulheres virgens. Atanásio emerge no palco do século IV, posicionando o flash frontalmente para que Maria seja toda iluminada, e assim dela possa emergir esplendidamente a LUZ, o Verbo encarnado. E que a comunidade cristã possa contemplá-la, como modelo de seguimento a Jesus Cristo. A linguagem Mariológica de Atanásio segue a trilha dos primeiros séculos realçando o colorido na tecelagem teológico-espiritual-ascética do século IV onde os grupos de virgens ganhavam espaço no mundo cristão. Vale afirmar que a Mariologia no pensamento de Atanásio está entrelaçada com sua Cristologia. O retrato apresentado de Maria, tanto na sua fidelidade a Deus, como no serviço aos pobres, e no progresso da perfeição, corresponde perfeitamente à figura bíblica mariológica.

 

 

 

Irmã Maria Freire da Silva.
Diretora Geral da Congregação da
Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria

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