Advento, Tempo de iniciar o caminho a partir da Luz que brilha.

O Advento como Exercício de Sinodalidade e de “Esperançar” para um Tempo Novo nos convoca a nos deixarmos impulsionar pelo dinamismo da Santíssima Trindade, para “nascer de novo”(Jo 3,3).  O Advento é muito mais do que uma contagem regressiva litúrgica; é um tempo teológico e pastoral profundamente interligado aos conceitos de sinodalidade, eclesialidade, e o ato de esperançar, preparando a Igreja e o mundo para o Tempo Novo que se manifesta no mistério do amor de Deus. A sinodalidade – o “caminhar juntos” – encontra no Advento um campo de prática e reflexão essencial. A espera pelo Salvador não é um ato solitário, mas uma jornada comunitária.

Advento Comunidade de Profetas e Esperantes: O Advento nos convida a caminhar em união com todos os que historicamente esperaram a vinda de Jesus: os profetas, como Isaías, João Batista, e, sobretudo, a Virgem Maria. Esta memória coletiva reforça nossa eclesialidade, mostrando que a Igreja, desde suas raízes, é um povo em movimento, guiado pela promessa.

Vigilância e Partilha: O ato de vigiar, central no Advento, torna-se sinodal quando a comunidade partilha a responsabilidade de manter as lâmpadas acesas (Mateus 25,1-13). A preparação para a chegada é um projeto comum que exige escuta mútua, discernimento e apoio fraterno, elementos-chave da sinodalidade. A Igreja se prepara junto para receber o Emanuel.

A preparação do Advento é motivada pelo amor, a essência da mensagem que virá em Belém. Amor como preparação da Vinda de Cristo é a suprema manifestação do amor de Deus pela humanidade (João 3,16). O Advento nos chama a refletir sobre como esse amor nos transforma e nos impulsiona à ação. A prática da caridade e da justiça social durante este tempo é o sinal mais concreto da nossa preparação interior. A eclesialidade – o sentido de pertença e atuação na Igreja – é renovada neste período. A Igreja, como Corpo de Cristo, povo de Deus,  é chamada a ser o instrumento desse amor no mundo. Celebrar o Advento é afirmar que a salvação é um evento que acontece dentro da comunidade de fé. Nossa vigilância é um ato de amor para que a Luz de Cristo encontre um lar acolhedor na comunidade e no coração da Casa Comum.

O Advento é, em sua essência, um tempo de esperançar. Ação e Expectativa. Não se trata de esperar de braços cruzados, mas de trabalhar ativamente pela transformação do mundo, enquanto se aguarda Aquele que é a Plenitude. O esperançar do Advento é a convicção de que o Reino de Deus, embora já presente, continua se manifestando.

Tempo Novo: A vinda de Jesus em Belém inaugurou um Tempo Novo, um tempo de graça e Salvação. O Advento nos orienta para essa realidade escatológica. A Segunda Vinda (Parusia) é a consumação desse Tempo Novo, e o esperançar nos impulsiona a viver já, no presente, os valores desse Reino: justiça, paz e plenitude. A vigilância sinodal e o exercício do amor são a forma de construir esse Tempo Novo no aqui e agora, pavimentando o caminho para o Senhor. O Advento é o grande respiro de limpeza da alma, um período em que a espera histórica do Messias se funde com uma intensa preparação espiritual interior. Não basta limpar e decorar o ambiente externo; o verdadeiro trabalho do Advento é preparar a casa interior, e essa tarefa é inseparável da ação transformadora do Espírito Santo.

A teologia do Advento está profundamente ligada à presença e à ação do Espírito Santo. A expressão hebraica Divina Ruah – que significa “sopro”, “vento” ou “espírito” – lembra-nos que Deus age na criação e na história, através de uma força viva e dinâmica. É a Ruah que pairava sobre as águas no início da criação e é Ela que move os profetas, despertando a esperança em Israel.

Em Maria, o ápice da Ruah no Advento é visível na Anunciação. A Virgem Maria só pôde conceber o Salvador porque foi coberta pelo poder do Espírito Santo. Ela é o modelo perfeito da vida humana que se deixa trabalhar pelo Espírito Santo, tornando-se um “lar” digno para o Menino Deus. Em nós, o Advento é o convite para que a Divina Ruah nos envolva da mesma forma, soprando sobre as nossas secas e frias realidades interiores, reacendendo o fogo da fé e da esperança. A preparação que o Advento exige não é apenas ritualística; é fundamentalmente um exercício de escuta profunda e integral.

Escutar com a mente implica refletir sobre a Palavra de Deus e compreender o significado teológico da dupla vinda de Cristo. É um exercício de vigilância intelectual que discerne a diferença entre a luz e as trevas, entre o essencial e o supérfluo do mundo. A mente precisa estar atenta para não ser distraída pelo ruído do consumismo.

Escutar com o coração é o passo decisivo. O coração, na Bíblia, é a sede da vontade, da consciência e do encontro com Deus. Escutar com o coração é permitir que a Palavra não apenas seja ouvida, mas se torne carne em nossa vida, gerando arrependimento e ação. É um ato de amor e abertura total, imitando o fiat (“faça-se”) de Maria. Este é o processo pelo qual nós nos deixamos trabalhar pelo Espírito Santo. O Espírito Santo usa a Palavra (a escuta) para moldar-nos, para nos purificar das arestas do egoísmo e para nos alinhar com a vontade de Deus. O objetivo de todo este processo — a ação da Divina Ruah e a escuta com a mente e o coração — é permitir-nos acolher a Salvação que o Menino Deus trará no Natal.

A Salvação não é apenas um evento passado ou futuro; é uma presença que irrompe no aqui e agora. Para que essa irrupção seja frutífera, precisamos de um coração transformado.

A ação do Espírito Santo no Advento é a conversão. Ele nos capacita a remover os obstáculos que impedem o Menino Jesus de nascer plenamente em nós. Isso inclui perdoar, ser humilde e exercitar a caridade. A mensagem central do Advento é a vinda de Jesus, o Messias. As profecias lidas neste tempo, especialmente as de Isaías, apresentam o Salvador como Aquele que vem para:

Libertar os Oprimidos: “anunciar a boa-nova aos pobres, curar os corações contritos, proclamar a libertação aos cativos” (Isaías 61,1).

A Segunda Vinda de Cristo é anunciada para estabelecer um reino de justiça plena, onde os últimos serão os primeiros. O Advento é, portanto, o tempo em que a Igreja clama: Vem, Espírito Santo! Prepara-nos para a Vinda do Salvador!

O Advento traga as luzes das Constelações mais distantes para iluminar o salão do baile da justiça, onde a música do Reino de Deus se torna valsa inacabada, ciranda sempre dançada, tango ensaiado com perfeição, forró na sanfona e no fole, o vaneirão. Dancemos todas as músicas. Vestimo-nos com as cores das culturas. E quando ouvirmos o choro da crianças divina, que nasce de novo em Belém e, hoje em nosso salão comum, paremos e o contemplemos e, digamos com alegria:

“Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens que ele ama” (Lc 2,14).

 

 

 

 


Irmã Maria Freire da Silva

Diretora Geral Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.
Bacharel e mestra pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo e doutora em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, Itália.

 

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