Artigo Mensal | Advento, Tempo da luz que vem do alto

“Põe-te em pé, resplandece, porque a luz é chegada, a glória de Iahweh raia sobre ti” (Is 60,1)

Estamos iniciando o período do Advento: tempo litúrgico de preparação para o Natal, mas é também o tempo em que o Espírito Santo nos guia como Igreja a viver mais intensamente a expectativa da segunda vinda de Cristo Senhor no fim dos tempos. A palavra Advento vem do latim adventus e significa “ chegar ”, ainda que seja percebido por todos como um tempo de “ espera ”. Na liturgia, o Advento marca o início do novo ano litúrgico, que termina com a festa de Cristo Rei e começa precisamente com a celebração das primeiras vésperas do primeiro domingo do Advento. O Advento nasceu com uma configuração semelhante à Quaresma, de fato a celebração do Natal desde as suas origens foi concebida como a celebração da ressurreição de Cristo no dia em que se comemora o seu nascimento. Remonta ao IV e VI séculos do cristianismo, onde aparece um período de preparação que antecede ao Natal. É atribuído a São Perpétuo, Bispo de Tours, que estabeleceu um jejum de três dias, antecedente ao nascimento do Senhor. A liturgia romana estruturou o Advento em 4 semanas, enquanto a liturgia ambrosiana faz com que o Advento dure 6 semanas, como já acontecia desde o final do século IV. A primeira celebração do Natal em Roma remonta ao ano 336, período em que ainda não há atestado de um tempo de Advento em Roma, mas na Gália e na Espanha. ( Di Berardino.G.) As origens do Advento encontram-se numa festa Mariana que tem por objeto a concepção virginal de Jesus, com prováveis alusões à maternidade divina da Virgem . Essa festa provavelmente era celebrada no domingo antes do Natal , e já existia em Constantinopla quando surgiu a heresia nestoriana . Após o Concílio de Éfeso ( 431 ) esta festa é atestada em todo o Oriente .

São Gregório Magno (590- 604) foi o primeiro papa a redigir um ofício para o Advento, e o Sacramentário Gregoriano é o mais antigo em prover missas próprias para os domingos desse tempo litúrgico. ( Di Berardino.G.)

O mês de dezembro chega para nós, repleto do esplendor de Deus, que proclama através dos profetas um Tempo Novo. O profeta Isaías nos convida a nos posicionarmos de pé diante do resplendor da luz que é chegada. É tempo de advento, do prelúdio que anuncia o grande evento divino, na história da humanidade e do universo. É o prelúdio que nos antecipa a experiência Daquele que chega a nós, nos braços de uma Virgem-Mãe, de uma jovem-mulher, repleta do esplendor de Deus Pai e revestida das vestes do Espírito Santo. Advento, Tempo da luz que vem do alto, preludiando o Kairós de Deus no chão da vida. Refletir sobre o Advento significa adentrar-se no Mistério do Amor escondido que abre as janelas do céu do divino, para transbordar no chão do humano, passeando entre as grandes constelações, e entre as estrelas, escolher a estrela de Davi, e com ela ensaiar a iluminação do cosmos, para acolher a Luz do olhar de Deus que ilumina a noite do nada, entregando seu Filho-criança nos braços do mundo.

A celebração do Advento, nos insere na dinâmica rítmica de um Deus Pai e Mãe que ama visceralmente o seu povo, o que requer nossa adesão e compromisso com o Reino de Deus e sua justiça. É um itinerário que constrói passo a passo a sinodalidade, através da escuta, do discernimento e do diálogo, que consequentemente flui na comunhão e participação, onde ocorre a unidade como expressão trinitária de Deus. Estamos concluindo o Ano de 2022, onde a turbulência na política, na economia, no social e no ecológico-climático nos desafia à um processo de conversão no verdadeiro sentido de uma metanoia como mudança de sentimentos e pensamentos, do intelecto, da visão de mundo e do outro como outro. O Advento é o período de alinhamento com o Projeto de Jesus Cristo, nivelando as barreiras que ultrapassam o respeito à dignidade humana, à ética, a justiça e a verdade. Faz-se necessário aplainar as erosões causadas pelos preconceitos, pela onipotência pela arrogância, pelo ódio e a violência que ferem os direitos dos pobres categorizados por regiões, pela cor da pele e pela pobreza, pelos ausentes dos palcos da fama e do estribilho do poder e do dinheiro. Exige um descentrar-se de si e tornar-se habitação da dança amorosa da Trindade Santa em sua valsa inacabada.

Esse, é o tempo em que nos situamos e adentramos no coração de Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja, e aí, encontrarmos a clareza do fazer memória da salvação que descende sobre nós, declinando em seus raios luminosos porque a “glória de Iahweh raia sobre nós”. O Advento é o itinerário do esperançar vislumbrando a vinda do Filho de Deus que se encarna no ventre de Maria. Isso requer abertura contínua às instruções da Divina Ruah que conduz a fluidez, a manifestação linguística da coerência do Projeto de Deus, encadeada na encarnação do Verbo. Há uma convocação à adentrar-se no Mistério e acolher o ato comunicativo do Senhor, e corroborar na ação missionária interrelacionando os aspectos primordiais da revelação divina, da realidade humana e da Casa Comum.

O mês de dezembro nos apresenta uma coleção de modelos de santos e santas no Calendário hagiológico. Entre as celebrações dedicadas a Maria Santíssima, temos a Imaculada Conceição, no dia 08/12 e Nossa Senhora de Guadalupe Padroeira da América Latina, no dia 12/12, encontra-se a mulher do Advento; que esperou, que andou apressadamente para visitar sua prima Isabel (Lc 1, 39ss) e cantar as maravilhas de Deus na história dos pobres. Mulher-discípula por excelência, capaz de recordar a promessa feita aos pais, e fazer memória da revelação de Deus. Maria se apresenta como a predileta, a amada de Deus que responde a seu chamado à maternidade divina. Sem dúvida, um dos aspectos primordial é escutar, é inclinar o ouvido à voz, a palavra que vem do alto, mas, que ressoa no mais baixo da terra, penetrando em nossos ouvidos, chegando ao nosso cérebro, meditada em nossa mente, filtrada em nossos rins, levada ao coração, e com sabedoria, entrarmos no processo do discernimento, onde as decisões nos impõe capacidade dialógica na comunhão e “participação. É tempo de reflexão, de oração e meditação, no dinamismo do Espírito Santo.

Põe-te em pé, resplandece…”

 

 

Irmã Maria Freire da Silva.
Diretora Geral Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.
Bacharel e mestra pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo e doutora em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, Itália.

Print your tickets