A Assunção de Nossa Senhora

O mês de agosto chega com muitas novidades para nós, Irmãs do Imaculado Coração de Maria. Tem em seus dias, nossos padroeiros: Afonso de Ligório (01), Santa Clara de Assis (11) e São Bernardo de Claraval (20).

Agosto está prenhe da presença dos Padres, mártires dos primeiros séculos da Igreja: Hipólito de Roma (13), São Lourenço (10), Santa Filomena (10), entre tantos outros. Destaca-se também a figura do grande pilar teológico da Igreja, Agostinho de Hipona (20). No entanto, percebe-se a presença de Maria Mãe de Deus, através de diversos títulos. É justamente com o título de Nossa Senhora da Assunção, que quero focar minha reflexão.

A definição dogmática da Assunção à Glória Celeste em corpo e alma, da parte de Pio XII, foi um evento eclesial marcado com pedra branca nas páginas da História (PAMI, 2001). Nos séculos VII e VIII através das homilias de São Modesto de Jerusalém (634) sobre a Dormição da Mãe de Deus como o primeiro discurso bizantino sobre a festa de 15 de agosto, dá-se o primeiro momento da teologia grega onde afirma a doutrina católica da Assunção. São João Damasceno é notável por suas três célebres homilias sobre a Dormição da Beata Virgem, comenta sobre a sepultura de Maria como algo normal aos humanos, porém que não conhece a corrupção, dando a entender a transfiguração do corpo, como participação na Ressurreição do Filho, tornando-se morada mais nobre e divina, pelos séculos dos séculos (ibidem). A chegada do Concílio Vaticano II assiste a um grande crescimento mariológico, a partir do movimento bíblico-litúrgico-patrístico-ecumênico e da teologia kerigmática. Pode-se dizer que a proclamação da Assunção em 1950 representa o cume da mariologia pré-conciliar com o triunfo do movimento assuncionista no contexto da II Guerra mundial.

Opiniões se dividem entre a contingência substancialmente histórica, unida à uma exigência de natureza psicológica, que almejava distanciar-se dos horrores do corpo destruído, desumanizado pela guerra, para olhar um modelo de humanidade realizada e gloriosa, como a Beata virgem Maria. É a valorização do corpo como espaço de salvação, habitação da Trindade Santa. Nos dois últimos dogmas marianos nos deparamos com um novo modelo do desenvolvimento da história dos dogmas: a Imaculada Conceição e Assunção fundamentados na argumentação da Tradição. Em um contexto de indagações histórico e teológica se insere a Constituição Apostólica “Munificentissimus Deus de Pio XII em 01 de novembro de 1950. Não são dogmas proclamados em Concílios para defender a fé de heresias(controvérsias).

O papa apresentava a Assunção de Maria como dom e sentido de reconciliação e de esperança. A Assunção da Virgem encontra razão de ser na entrega incondicional de Maria à pessoa e a missão redentora de Jesus, o Filho de Deus encarnado. Portanto, evidencia-se a questão seja personalógica do privilégio da singular pessoa de Maria, seja cristocêntrica e soteriológica, único Cristo redentor e glorificado. Trata-se de uma transfiguração sobrenatural e pascal do corpo humano. A Assunção oferece em Maria uma imagem antropológico-teológica exemplar na plenitude da integralidade da pessoa, da corporeidade feminina, ícone escatológico da Igreja e da comunidade discipular do Ressuscitado. Maria é a mulher do início (kairós de Deus) e da promessa divina. Maria assunta indica de modo antecipado o destino da humanidade. Maria é ícone do Deus trinitário e da nova humanidade.

A Assunção conclui a maternidade divina de Maria, o abraço do Espírito Santo que a cobriu com sua sombra (Lc 1,35). Essa realidade nos convida à contemplação do mistério trinitário de Deus presente em Maria, provocando uma abertura para o futuro, onde o corpo não é objeto do mercado, mas espaço do movimento do Espírito Santo, na realização da vida nova em Cristo. Há um chamado à liberdade, a ética e a verdade, uma ligação forte entre Maria e Cristo em uma extensa participação no mistério de salvação.

O corpo glorioso refuta o corpo visto de modo utilitarista, como objeto de prazer exposto ao dinamismo da moda, da sexualidade, do passageiro, do descartável, como também, maltratado pela fome, pelas marcas da guerra, pelo desprezo, pela ausência da ternura e do amor comprometido. A Imaculada representa o paradigma da vocação humana pensada e querida por Deus, é um sinal profético. Em Maria, toda humanidade vem reconduzida às suas origens, à beleza inicial. Em Maria temos a primazia e a antecipação da humanidade no esplendor da sua plenitude (Ef 1,18). É preciso pensar a Assunção na dimensão relacional da corporeidade (PAMI, 2001).

 

 


Irmã Maria Freire da Silva.

Diretora Geral da Congregação das
Irmãs do Imaculado Coração de Maria

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