150 anos da morte de Bárbara Maix: sempre presente em nossa missão

No dia 17 de março de 2023, a Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, celebra 150 anos da partida para Deus, de Bárbara Maix, Fundadora da Congregação. No dia 17 de março de 1873, no Rio de Janeiro (RJ), a morte chegava e a transportava para junto de Deus, para que estivesse sempre presente em nossa missão, tão inerente a nossa vocação. Transcendendo a doença e o cansaço, levantou-se, pôs-se de pé e contemplou as Irmãs que estavam trabalhando no jardim.

Encenação da morte de Bárbara Maix | Reprodução Irmãs ICM, 2010

Há 150 anos, igual à uma partitura que nada mais é do que um registro completo da música com todos os seus elementos e com linguagem e simbologia que lhe são próprias, Bárbara olhou para o infinito e, com o olhar que se fez lágrimas, disse adeus, com apenas  55 anos de idade. Suas grossas lágrimas eram a simbologia de um amor amadurecido, doado até as últimas consequências na história congregacional. As lágrimas molhando a sua face, tão suavemente, sorrateira na dor que se quebrava com a força do amor que se impunha, na vida que aparecia dando ao corpo a musicalidade nos prelúdios da graça do Ressuscitado na história. Assim, anunciava às Irmãs que estava morta, e sempre viva. Ainda em Viena, sua terra Natal, aprendeu  a ser forte e corajosa, habilidosa na arte do seguimento de Jesus Cristo. Assim, como a partitura pode ser considerada um legado na arte musical, também Bárbara, tornou-se para nós ICM um legado, uma partitura que permite a nossa interpretação dando-lhe o que é único de nossa marca, em cada contexto histórico.  

Com sua morte, o resplendor divino iluminou as mentes e os corações das Irmãs que antes a rejeitavam e a caluniavam, motivadas pela inveja, pelo desejo desenfreado do poder, e sobretudo, distantes do verdadeiro e “primeiro amor”(Ap 2,4) Jesus Cristo, o consagrado do Pai.  O comportamento arrogante e mundano de algumas Irmãs, feria o coração de Bárbara, alfinetando suas entranhas amorosas que, em nome da Trindade, estava apta à perdoar com o coração e amor maternos(1871), e testemunhar a verdade gloriosa e resplandecente.

Sua morte trouxe a verdade pura e cristalina sobre  tudo aquilo que nos labirintos das calúnias e perseguição a fazia sofrer. Trouxe também a vitalidade à vida da Congregação em seu crescimento e abrangência missionária na promoção e defesa da vida.  Sua morte nos recordará sua presença efetiva no Carisma e Missão, no ardor místico e espiritual, no louvor a Deus Trindade, vivendo a misericórdia e a caridade. Sua morte não foi o fim nem em si mesma, nem de seu grupo, mas encontra sentido de plenitude na vida Nova em Cristo. Ao se aproximar sua partida podia dizer: “Queridas filhas, muito tem meu coração a falar. Peço-vos que cada uma vá, com o Espírito Santo, numa hora de silêncio, ao fundo do seu coração e lhe dê a liberdade de vos falar e fazer o que Ele quiser. Ouvi-O com coração humilde, de criança, e cumpri o que Ele ensinar”(1872). Sua vida foi uma constante entrega a Jesus Cristo no coração da Igreja, com os pés firmes na realidade dos pobres, de uma vida debruçada sobre a justiça e a verdade, articulando as forças para o Projeto de Deus, e renunciando qualquer proposta que negociasse o essencial.


Seu espírito eclesial nunca permitiu exposição dos membros, nem de autoridades que estavam envoltas nos enredos e narrativas caluniosas, baseadas na sinuosidade das inverdades construídas com as artimanhas da mentira. Podemos refletir sua morte dentro da dinâmica quaresmática que estamos vivendo, justamente lugar de aprendizagem, de purificação, de jejum e de oração no processo de conversão tão querido e testemunhado por Bárbara. É significante que os 150 anos de sua morte se insira no Tempo Litúrgico da Celebração da Morte e Ressurreição de Jesus. Foi essa sua escola, sua formação e sua educação, na expressão do compromisso vocacional, o que lhe dava certeza de que a “verdade cantará vitória…”(1872). A Congregação não pode prescindir da categoria de união, tendo a Trindade como Fonte e a Comunidade Primitiva como modelo de fé, de partilha, de paz e de bravura no seguimento de Jesus até as últimas consequências.

Sua morte em grossas lágrimas, torna-se transluzente clareando a noite do nada, mostrando através das notas na partitura o amanhecer que emerge na aurora incansável banhada pelo Sol da Santíssima Trindade. Sua partida ainda tão jovem, retrata que para Deus é a qualidade e a intensidade  em que existimos, vivemos e somos em nós mesmas e para o outra/o. Em seu itinerário, o Imaculado coração de Maria foi sempre a estrela que brilhava nas noites e crises da Congregação, assim como nas alegrias leves, ensinando a dizer Sim e a fazer a Vontade de Deus. O Coração de Maria foi seu cofre, onde despejou suas angústias, certezas e incertezas, confiança e esperança, compreendendo a radicalidade da consagração a Jesus Cristo, único Mestre e Senhor.


Seu olhar contemplativo na manhã que não retorna, suas lágrimas de adeus, confirma que vive para sempre no Coração e na Missão da Congregação. Como uma partitura vibrava em seu corpo fluídos de sua mente, o translúcido o céu se aproximava, e seus olhos se fechavam para abrir-se na eternidade do Ressuscitado, viva para sempre.

 

 

Irmã Maria Freire da Silva.
Diretora Geral Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.
Bacharel e mestra pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo e doutora em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, Itália.

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